O NOVO MILÊNIO É PURO DIVAGAR - IV

IV

Sabe quando você pensa que é o maioral, mas de repente descobre que não passa de um graveto?
Pois desta forma devemos reconhecer nosso verdadeiro estado...
Somos um gravetinho...
Com todos os desdobramentos possíveis e imagináveis, e todas as possibilidades praticamente infinitas do mesmo, passando por todas as conclusões que cabem neste caso...
Um gravetinho fininho que pode quebrar com um sopro! Um bafo de gambá, ou um sorriso de gaivota salamaleque que não passa disso... um gravetinho inconsistente que pensa que pensa e só.
Este gravetinho tombado por um inseto parrudo, este somos nós.
Tal gravetinho fragílimo pode atravessar as galáxias com a força de um pensamento...
É nós.
Um mosquito de louça e Deus. Apenas uma mísera fagulha, mas definitivamente... Deus.
Que pode destruir todos os seus semelhantes com um simples aperto de botão, mas que também pode criar coisas belas como uma sinfonia ou uma peça de Shakespeare, e que no final das contas acaba por lembrar-se de sua filiação divina.
Este gravetinho, aeroporto de môscas, que pode pensar Deus como essência, contraditório, arrogante, esquálido, paradoxando-se com todos os espectros, inclusive com os próprios, este ser insignificante somos noses.
Então, derrenpentemente, poderíamos encerrar por aqui aquele mergulho próprio do debruça-te perante a ti mesmo, mas não acabamos ainda...
Muito ao contrário...
Vamos a mais uma historinha...
Como todos já sabem a farta era noite... Ventia e Chuvava. José Bonifício soltava bagos de artifácio... Isso bem depois de Cabril descobrir o Brasal... Bem... Noite obumbrosa, friorenta, sinistramera, peçonhamente nauseabunda, irritantemente descritiva, e, no entanto, a partir do umbral das janelas per se, além mar rotineiro abundante, quase ilimitadamente invisível, no sentido de que não se podia vislumbrar uma única trave diante do olho alheio, que dirá o cisco kid no olho próprio, imanente, perciente, estupefaficiente, como sói nessas plagas altiplanas planaltinas informes de cadete alusivos a niente.
Enfim, como sempre, a moça, vestido esvoaçante azul, plenamente claro e leve, enladrilhado com rodilhas e retortas de tecido transparente, caminhava descalça e sem destino embaixo da chuva rota... Estaria louca aquela beleza de nutridos molhos firmes?
Todavia, adstringentemente, ela procurava, talvez, aquela nave que ninguém imaginava tal existência concreta porque, em realidade, ela não existia...
A moça, sim...
E a nave?
Entretanto a mulher, aparentemente desvairada, continuava na sua dança nua de tecidos aéreos, desfilando sua beleza fresca e virgem aos olhos somente meus...
Que alegria o contemplar daquele bale absolutamente demoniacal para quem só havia vida, e não julgava sequer a conveniência de enxergar a realidade nua e crua, mas que houvesse algum conteúdo naqueles olhos aparentemente deslocados insanos, isto não era coisa que a nave julgasse, exatamente porque a função dela ali naquele momento não era esta...
E aquela linda jovem, coitada, desfilando molhada, e tênue, enpaliçada, não imaginava também a presença de um par de olhos pousados sobre ela...
Os meus.
Tudo aquilo excitava-me sobremaneira a volta da noite fria e chuvosa que abusava de nós...
Eu e aquela deusa desvairada que dançava descalça nas pedras molhadas do pátio enxarcado.
O prazer que aquela dança adquiria sob o reinado daquela nave irreal, mas consistente, subjugava cada linha deste emanranhado concêntrico, mas divertido.
Tudo era possível diante dos altares da malvadessa corada e carcomida filigramaticamente abscôndita!
A minha deusa de tecidos esvoaçantes e claros parou de dançar com a claridade súbita...
"De onde vinha esta luz?" Parecia ela inquirir a própria natureza dispersa...
A beleza do bailado cessou de todo o memento...
Então, não mais que um segundo após a paisagem de neblina, não havia mais nada, nem sombra, nem luz, nem a nave inexplicável, nem a minha deusa dançarina...

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