A BAHIA DE TODOS OS JORGES - FINAL

Para encerrar vou falar sobre Tocaia Grande...
Como disse na postagem anterior, o universo de Jorge Amado é cheio de lugares comuns, melhor dizendo, personagens comuns, como coronéis, jagunços, Jecas Tatus diferenciados, e muitas prostitutas...
Sempre.
Mas Tocaia Grande, que conta a história da formação do munícipio de Irisópolis... Não possuo elementos para afirmar se esta história é verdadeira ou não... Deve ser. Jorge Amado dá a entender que é. Não sei porque, mas esta história não tem o mesmo vigor de uma Tieta ou uma Tereza Batista. Acho que Jorge gostava mais de contar as histórias de personagens femininas, embora em Dona Flor e Seus Dois Maridos, "Flor", a personagem título, também não possua a mesma magia de outras mulheres de Jorge. No entanto, o tema preferencial em Tocaia Grande é claro: a convivência pacífica entre seres humanos de diferentes formações culturais, e que se unem em torno da liberdade de escolher a maneira pela qual querem viver. Uma espécie de busca pelo paraíso ideal, talvez um ensaio baseado em outros temas utópicos. Não sei... Posso estar delirando...
Só que esta paz fica ameaçada quando o lugarejo, que na época da história mal passava de uma arraial, começa a prosperar graças a melhoria da qualidade de vida proporcionada pela agricultura...
É interessante salientar que o grande êxito do romance é alcançado apenas em seu final, quando a "Lei", ou seja, os ambiciosos e aproveitadores, sempre a espreita de uma carniça, vem tomar o que, presumia-se, nunca tivera dono, as terras de Tocaia Grande...
Quer dizer, nunca tiveram donos enquanto as terras permaneceram sáfaras, sem produtividade; depois que trabalhadores deram a vida por ela, suaram e a fizeram produzir, os "donos" se apresentaram, como abelhas atrás de açúcar,e resolvem tomar posse daquilo que sempre desprezaram.
A conclusão é óbvia: aos poderosos, aos donos do mundo, a "Lei" serve nos momentos mais inesperados, e a letra é conquistada com o aval da violência. É engraçado que o prenúncio da tragédia tenha sido predito pelos "enviados de Deus", dois frades, dois asseclas da catolicidade descarada, sempre prontos a confundir política e religiosidade.
A Igreja Católica faz isto muito bem há séculos...

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