NESSA ONDA QU'EU VOU...

   Não aguento mais as mesmas mazelas de sempre!
   Tempo desgraçado de frio e chuva e tudo e o deserto desta vila aos domingos quando mal ouço os carros passarem ali na esquina sem cantar pneu nem nada, na sua pressa atávica em direção ao Nada Existencial...
   A última casa da vila...
   Há setenta anos eu não era nada! Isso daqui não era nada! Era um bairro como outro qualquer, onde viviam pessoas pacatas, famílias, o padeiro deixava o pão e o leite na porta de casa, numa garrafa de vidro, e nunca ninguém pensara em roubar, e ainda havia carros puxados por burros pobres de tanto apanhar e comerem capim seco, porque o que mais havia era mato... Mas hoje... Nós é que comemos capim e não sabemos. Nós é que somos os burros falantes e sonhamos com tecnologia e barrigas cheias.

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