ESTE MUNDO TRÈS BANAL!

        Sabe quando você acorda de um longo sonho, que mais parece um pesadelo, e passa a enxergar a realidade com outros olhos...
        Entretanto, o mais difícil nem é tanto o sonho, mas justamente a realidade que se torna um pesadelo perene...
     
        Talvez você não esteja assistindo a sua versão da realidade, mais ou menos como um esquizofrênico faz, mas intuindo a verdade que jaz recôndita sob os véus de um mundo extremamente banal...
        Porque este mundo é, atualmente, sobremaneira banal em essência!
        Às vezes eu penso que vivo numa outra realidade, algo como um Universo Paralelo que se acoplou por acidente a este mundo, e agora eu sou obrigado a aturar certas banalidades que no meu mundo não existem!
        Você descobre um autor brasileiro de ficção científica perdido nas brumas do tempo; um livro do qual você nunca ouviu falar, por exemplo, A Cidade Perdida, e realiza, estuporado, que este livro, na verdade, é um clássico da ficção científica brasileira, e ninguém, claro, principalmente os brasileiros, nunca ouviu falar...


        Nem eu tampouco!
         Sabe o que é mais irônico? Um amigo seu, também escritor - porém argentino! - é quem o presenteou com tal pérola!
        Aí você começa a rodar aquele filminho na sua cabeça, um filme que você já sabe de cor e salteado, mas que é a suma verdade da sua existência...
        Nós vivemos num mundo extremamente banal! Os fatos são banais, as pessoas são banais, os livros são banais, as canções banais... E isso tudo parece uma doença fadada a exterminar toda a raça humana, porque você não consegue enxergar um antídoto!...

        No livro, A Cidade Perdida, alguns brasileiros decidem, baseados num achado misterioso, uma peça de ferro dum portão, descoberto, talvez, na Venezuela, arriscar uma exploração pelo interior do Brasil à procura da Atlântida. Curiosamente, algo que o famoso explorador inglês Percy Fawcett também acreditava, tanto que desapareceu em circunstâncias as mais misteriosas... Dizem que acharam o cadáver dele e de seu filho, assassinados pelos índios locais, mas isso deve ser notícia falaciosa para calar os caçadores de mitos! A história tem alguns pontos em comum com a novela de Sir Arthur Conan Doyle, O Mundo Perdido, que o autor certamente deve ter lido...

        O Jeronymo Monteiro, autor de A Cidade Perdida, não figura em nenhum catálogo de grandes editoras brasileiras! Não sei porque cargas d'água você acha algo sobre ele na Wikipédia... Talvez porque ela não é feita aqui... Aí você procura as outras obras do autor, títulos extremamente interessantes, mas não os encontra, só as capas de algumas edições em imagens no Google! Realmente... somos tão banais!


        E a mídia, o que tem a nos contar sobre isso...? Vai empurrar-nos uma resposta do tipo: não temos procura deste autor para publicação, ou outra coisa banal qualquer! Afinal, num mundo banalizado a mídia tem que ser também... banal.
        Jeronymo Monteiro pode ser incluído, tranquilamente, como um dos grandes na especialidade que desenvolveu, talvez não tenha tido muitos estímulos para exercer sua vocação devidamente... Novidade! Se ele tivesse nascido num país de língua inglesa, provavelmente hoje seria um dos gigantes do gênero. Por terras tupiniquins alçou-se nas alturas de outro mestre consagrado, que, infelizmente, não arriscou muito no gênero da ficção científica... Monteiro Lobato! Até um nome eles têm em comum!

        Sabe quando você quer dizer várias coisas numa história e vê que alguém já disse tudo aquilo que você queria muito antes? E separados por décadas de diferença! claro que a técnica não é a mesma... não pode ser a mesma... somos pessoas diferentes, separadas por um mar cultural, ainda que eu fosse criança quando Jeronymo já escrevia!... porém sempre fica alguma coisa para ser dita que ainda não o foi... No caso, através das ideias inspiradas por ele...
        Eu temo por todas as gerações que vivem este mundo banal... Depois que eu li  A Cidade Perdida, eu me convenci definitivamente que estou no caminho certo, apesar deste mundo très banal! É uma questão de convicção enraizada! Nada vai mudar a minha rota... Já os caminhos deste triste mundo banal... Aí eu me lembro daquela canção do Tayguara, nem um pouco banal, que dizia "Estou morto pra este triste mundo antigo"... Assim estou eu...
        Para encerrar com chave de ouro. O Sujeito supra citado é tão famoso lá na região onde nasceu e viveu que até virou nome de cidade...

Comentários