Mas Falemos de Machado de Assis

Yes, we can...
Sim, e como!
Meu contato mais profundo com Machadinho se deu na década de noventa, quando eu decidira, já tardiamente, me dedicar a este difícil ofício de escrever...
Perdoem-me a cacofonia...
Mas ela foi proposital.
Eu acredito que escrever é mais do que uma arte, pura e simplesmente. Escrever bem, é claro. Não é tarefa tampouco para fracos, arrivistas ou deslumbrados...
Mas então, eu dizia, o meu contato com Machado de Assis, numa dimensão mais ajuizada, deu-se lá no início da década de noventa do século recém terminado...
Que arrebatamento, meus amigos!...
Foi amor à primeira vista...
Eu não parei mais...
Li toda a obra dele numa cajadada só...
Embora eu não tivesse coelhos para abater.
Não vou perder o nosso tempo aqui fazendo uma biografia, mesmo que breve, deste Monstro, até porque vocês podem encontrar tudo sobre ele aqui mesmo na grande rede...
Eu prefiro mencionar a minha experiência pessoal sobre a obra de Machado, a minha impressão particular...
Quando você tem uma obra como Memórias Póstumas de Brás Cubas, ou até mesmo a continuação, Quincas Borba, e um jovem te pergunta qual o significado desses livros, é quase o mesmo que sua esposa lhe perguntar qual o significado do seu amor por ela...
Neste caso a explicação é quase impossível!
Senão vejamos...
Que tal entrares numa máquina do tempo... Pode ser a do W. G. Wells porque sabemos que ela funciona! Seria necessário ainda que uma pessoa disposta a compreender Machado, ainda que viajasse ao seu tempo, tivesse um conhecimento a priori das condições histórico-econômica-políticas desta época, para que tudo ficasse mais claro...
E, no entanto, a literatura supre todas estas necessidades: uma máquina do tempo para que o leitor possa avaliar a dimensão e a importância de tais obras no contexto da humanidade, uma vez que a imaginação, projetada através da leitura do livro, completa o sentido daquelas lacunas deixada pelo tempo.
Contudo, esta perspectiva histórica, juntamente com a avaliação e compreensão das obras de um grande autor, em contato com uma humanidade que, enquanto entidade, extrapola a dimensão temporal, não é coisa para motorista inexperiente...
Isso funciona exatamente como quando você começa as primeiras aulas de direção...
Só depois que você dominou o veículo e a arte de dirigir é que você passa a encarar aquele fenômeno como uma coisa natural...
Assim é a arte da Leitura.
Não basta você entender o idioma que está transcrito ali naquelas inúmeras páginas. Você tem de dominar também a linguagem. E como dominar uma linguagem totalmente fora de seu tempo? Aí está o segredo da Literatura, segredo este reservado a poucos iniciados, porque requer quilometragem, ou seja, só no momento que a leitura se transforma num fenômeno natural, porque corriqueiro, é que o leitor terá o poder de se abstrair do tempo e entrar no universo daquele autor longínquo; e é exatamente o que acontece entre os jovens de hoje e o universo machadiano...
Você não pode ensinar uma pessoa a "Ler" Machado de Assis ...
Note que eu coloco Ler com letra maiúscula. Ler não é um fenômeno cognitivo apenas; ele envolve muito mais do que gramática, conceitos linguísticos, etc. Um grande autor escreve dois livros em um: de um lado está a historinha, aquela que prende somente algumas pessoas superficialmente: a maioria. O segundo livro, aquele que não está escrito, ou melhor, está implícito na obra do mestre, é o mais importante...
Simplesmente porque envolve "filosofias", noções históricas carregadas de ideossincrasias, porquanto um escritor não se faz sem uma ideologia.
Por isso tudo, Ler não é um exercício simplório, mas exige paciência, muita paciência, num mundo carregado de imediatismo.
Portanto, para aqueles que desejam ler Machado de Assis, o "dois livros em um", por exemplo, Memórias Póstumas de Brás Cubas, e ficarem restritos apenas ao primeiro livro dos dois, eu digo agora: Machado revolucionou uma época onde ninguém escrevia fora de regras românticas ou parnasianistas, uma vez que ele engloba os dois períodos, didaticamente falando. Não que ele desconhecesse as regras; não desconhecia! Mas ele fez o que o seu demônio interior ditava, e o talento é isso: quando você dá uma banana a todos os críticos ou professores e subverte toda uma época.
Não que isso seja um requisito atribuído apenas aos gênios. Não é. Hoje em dia, como nós vivemos no auge da Era dos Espertos, para não dizer dos facínoras de terno e gravata, qualquer pessoa produz qualquer porcaria e certos "mecenas" comprometidos com a roda da fortuna aceitam os falsos profetas da novíssima literatura e ainda fazem com que todos os consumidores acreditem neles.
Este é o problema!
Até a próxima, amigos da boa literatura luso-brasileira...

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